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domingo, 17 de setembro de 2017

Segurados criticam INSS por falta de médico da área e rapidez em perícia

Governo já cancelou quase 80% dos auxílios-doença após pente-fino

Djalma Martins da Silva entrou na Justiça para recuperar o benefício
Djalma Martins da Silva entrou na Justiça para recuperar o benefícioArquivo Pessoal
Dos 200 mil auxílios-doença que já passaram pelo pente-fino do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), 160 mil foram cancelados (80% do total). Beneficiários afetados pela operação do governo e advogados previdenciários criticam as perícias médicas, que seriam aceleradas demais e, em muitos casos, não contariam com o médico especialista na doença do segurado.
É o que relata o vigilante Djalma Martins da Silva, 48 anos. Com artrose no joelho direito e dificuldades para ficar em pé e caminhar, ganhou o auxílio-doença em 2002. A última vez que ele passou pela perícia foi em 2011, quando perdeu o benefício após ser considerado apto ao trabalho por ao menos seis peritos.
Djalma reconquistou o benefício no mesmo ano após ser periciado por um médico ortopedista da Justiça Federal. O auxílio-doença foi pago regularmente até fevereiro passado, quando o pente-fino do governo federal o considerou novamente apto ao trabalho.
O perfil de Djalma é justamente o que está na mira do INSS. A operação está reavaliando um total de 530.191 auxílios-doença que não passam pela perícia há mais de dois anos (ainda faltam mais de 300 mil revisões). Levantamento do MDS (Ministério de Desenvolvimento Social) indica que quase a totalidade desses benefícios (525.897 ou 99,2%) foram obtidos pela via judicial.
Para Djalma, o que aconteceu em 2011 se repetiu em fevereiro deste ano: a falta de um médico perito especialista em sua doença. Ele critica também a forma como o pente-fino foi realizado, já que foram apenas 5 dias entre o recebimento da carta de convocação e a perícia — tempo curto para atualizar todos os exames.
— O médico nem sabia o que estava acontecendo comigo, só perguntou por quanto tempo eu estava afastado. Ele ignorou os problemas no quadril e no joelho. Não falou nada, só falou para aguardar a carta em casa. Tive cinco dias para agendar todos os exames, e o médico não esperou nem o prazo dos exames saírem.
O segurado ficou sem saber o que ia acontecer até ir ao banco retirar o benefício, no início do mês seguinte. Foi quando descobriu que o auxílio fora cancelado no mesmo dia da perícia. "Eles te cortam o benefìcio e depois você fica bloqueado no sistema sem poder agendar uma outra perícia", diz. O caso agora está na Justiça.
A MP (Medida Provisória) 767/17, convertida na Lei 13.457/17, publicada em junho passado, regulamentou a revisão dos benefícios do INSS, autorizando o cancelamento do auxílio-doença ou aposentadoria por invalidez mesmo se concedido pela via judicial. Determinou também um bônus de R$ 60 aos médicos peritos por atendimento, que deve ser feito fora do horário de trabalho.
Ao todo, serão convocadas 1,7 milhão de pessoas que há mais de dois anos estão sem perícia, sendo 531 mil que recebem o auxílio-doença e 1,1 milhão de aposentados por invalidez com menos de 60 anos.
Na avaliação da advogada especialista em direito previdenciário Marta Penteado Gueller, não há médicos peritos suficientes para as perícias, que são feitas além do horário de trabalho e que, muitas vezes, acontecem de forma "relâmpago".
— Os segurados reclamam disso, que o médico é muito rápido, bate o olho nos documentos e, na maioria das vezes, nem questiona nada. Aqueles que estão realmente doentes e não concordam com a alta vão recorrer à Justiça.
No escritório da advogada previdenciária Sara Tavares Quental, também há clientes reclamando das perícias do INSS. “Acontece muito de você ir no INSS fazer uma perícia ortopédica e o perito que está lá é um psiquiatra e não entende da sua patologia”, afirma.
— A perícia não é feita analisando tecnicamente o real problema, ela é uma perícia mais superficial. Se fosse analisado no detalhe, avaliando todo o quadro clínico, muitos benefícios que foram cortados não seriam cortados. A gente não pode garantir que a perícia é feita com essa qualidade, o que a gente sabe é que normalmente não é assim.
Segundo Francisco Cardoso, presidente da ANMP (Associação Nacional dos Médicos Peritos), “é natural que quem tenha tido resultado desfavorável faça declarações para desclassificar a perícia, mas a Justiça está mantendo as decisões da perícia na maior parte dos casos”. O MDS diz que é “muito baixo, quase irrisório”, o número de benefícios cancelados que foram revertidos pela via judicial.
Até julho, 199.981 perícias foram realizadas, sendo que 159.964 benefícios foram cancelados
Até julho, 199.981 perícias foram realizadas, sendo que 159.964 benefícios foram canceladosEvandro Leal/16.08.2017/Agência Free Lancer/Estadão Conteúdo
Morando com a mulher e a filha, Djalma diz que, com o auxílio, "já estava difícil" para sustentar a família, mas agora "ficou muito pior", com contas atrasadas e alimentação limitada. O vigilante afirma estar disposto a trabalhar em outra função, mas diz que não obteve autorização do INSS para entrar no programa de reabilitação.
— Hoje eu não consigo trabalhar em pé. Eu não vou para a construção civil porque estou limitado. Eu até queria fazer a reabilitação, porque se eu faço uma formação profissional, consigo executar outra atividade, mas não me autorizaram. Estou no limite.
Segundo a advogada Marta Gueller, a reabilitação profissional é um direito do segurado e dever do INSS.
— Muitas vezes oferecem curso de informática, mas o segurado não tem nem o ensino primário. Tem que preparar as pessoas, fazer convênios com empresas, não pode brincar de reabilitação. Precisa garantir que haja essas vagas, para que as pessoas sejam recolocadas. Caso contrário, você está colocando essas pessoas nas ruas. Se o governo não garante a reabilitação, a Justica tem que garantir a elas o direito do beneficio.
Outro lado
A assessoria de imprensa do INSS informa que “convocou o senhor Djalma para uma perícia médica, que constatou que não havia incapacidade para o trabalho. Com isso, o benefício foi cessado em 17/3/2017, por alta médica. Em agosto de 2017, o segurado entrou com outra ação judicial contra o INSS pedindo novo benefício por incapacidade. A Justiça ainda não julgou essa ação”.
Ainda de acordo com o órgão, caso o segurado entenda que não está em condições de voltar ao trabalho, ele poderá agendar outro pedido de auxílio-doença pelo telefone 135 ou pelo site meu.inss.gov.br. No dia do atendimento, deverão ser apresentados exames, laudos e relatórios que comprovem o agravamento da doença.
O INSS diz que “o procedimento médico pericial consiste em levantar, por meio de entrevista com o segurado, o histórico da doença. Esse histórico se baseia na análise de laudos médicos, exames e relatórios, que são fornecidos pelo médico que cuida da saúde geral do trabalhador, e em exame físico. Há casos em que o trabalhador tem algum problema de saúde, mas é negada a concessão do benefício. Isso ocorre quando o segurado passa a ter condições de trabalho com o controle de sua enfermidade por meio de tratamentos e medicamentos”.  
Segundo o Ministério de Desenvolvimento Social, até julho de 2017 foram realizadas 199.981 perícias (do total de 531 mil), com 159.964 benefícios cancelados. A ausência de convocados levou ao cancelamento de outros 20.304 benefícios. Outros 31.863 benefícios foram convertidos em aposentadoria por invalidez, 1.802 em auxílio-acidente, 1.058 em aposentadoria por invalidez, com acréscimo de 25% no valor do benefício, e 5.294 pessoas foram encaminhadas para reabilitação profissional — apenas 3,3% do universo de benefícios cancelados. De acordo com a pasta, o pente-fino já proporcionou economia de R$ 2,6 bilhões à Previdência.
Na próxima segunda-feira, o programa Economia Sem Paletó vai discutir a operação pente-fino e outras questões previdenciárias. O programa será transmitido ao vivo, às 15h, na página do R7 no Facebook.

Quem perder auxílio-doença por ausência pode processar INSS por dano moral

Economia Sem Paletó #12 tratou da operação pente-fino do INSS

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Em um ano de operação pente-fino, o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) manteve apenas 10% dos auxílios-doença revisados (20 mil benefícios) — já foram analisados 200 mil segurados com menos de 60 anos e que estavam sem perícia há mais de dois anos. Outros 80% dos benefícios revisados (160 mil) foram cortados por decisão do médico perito, enquanto que os 10% restantes (20 mil) perderam o benefício por não terem sido encontrados pelo governo federal. Para a advogada Vanessa Vidutto, especialista em direito previdenciário, "é um grande absurdo" este último grupo perder o benefício por "ausência", o que abre margem para ações judiciais.
— Se você não tomou conhecimento que seu beneficio vai ser cancelado por não ser encontrado por alguma razão, você não pode ter um direito seu cancelado automaticamente. Essas [20 mil] pessoas têm direito de recorrer ao Judiciário e acredito até que nessa situação caberia um dano moral, porque isso causa grave lesão à vida do segurado.
A operação pente-fino do INSS foi o tema do Economia Sem Paletó desta segunda-feira (21), o programa de de economia do R7 transmitido ao vivo, a cada duas semanas, na página do Portal no Facebook.
Assista ao programa completo:
O pente-fino vai analisar mais de um terço dos auxílios-doença e das aposentadorias por invalidez. Veja abaixo a quantidade de benefícios que estão no alvo do governo. Para se ter uma ideia, mais de 99% dos 530.191 auxílios-doença a serem revisados foram obtidos por decisão judicial.
Arte R7
Segundo o MDS, a pasta já economizou R$ 2,6 bilhões com o corte de benefícios
Segundo o MDS, a pasta já economizou R$ 2,6 bilhões com o corte de benefíciosArte R7
Este corte de benefícios, segundo a advogada Vanessa Vidutto, pode gerar um aumento no volume de processos judiciais contra o governo e engrossar a população brasileira sem proteção social — o que aumentaria, no futuro, os gastos com os benefícios assistenciais. 
— Essas perícias do pente-fino têm sido marcadas com bastante rapidez, e a maioria dos segurados depende do SUS (Sistema Único de Saúde), mas não tem tempo hábil para conseguir um agendamento na rede pública de saúde para passar por um exame, que tem uma espera de três a quatro meses. Então elas vão para essa perícia do INSS, para passar por um perito fora do horário de trabalho dele, que vai ganhar por produtividade, sem ter [em mãos] uma documentação que poderia sustentar a manutenção deste benefício.
Uma opção para os segurados nessas condições é ingressar com uma ação judicial para reaver o pagamento. No entanto, para aqueles segurados que não conseguirem comprovar o direito ao antigo benefício, o caminho será esperar até completar as condições mínimas de idade para ter direito aos benefícios assistenciais, o que pode "representar o aumento da população de excluídos em situação de penúria".
Outro ponto que causa preocupação é a ausência de planejamento nos cancelamentos e apoio efetivo aos segurados que ficarão sem o pagamento.
— As empresas, isso quando o segurado tem um vínculo de emprego, não estão preparadas para o retorno dessas pessoas que já estavam afastados há anos. É provável que elas serão demitidas. 
Aposentadorias por invalidez
Nos próximos dias, mais de 1,1 milhão de aposentados por invalidez (com menos de 60 anos e há dois anos sem perícia) começarão a receber a carta de convocação do INSS para passar pela perícia médica.
Quem não precisa se preocupar são os aposentados com 60 anos de idade ou mais e quem tem entre 55 e 60 anos e recebe o benefício há mais de 15 anos. Aposentados por idade não precisam se preocupar também porque o pente-fino está mirando até o momento apenas os benefícios por incapacidade.
Segundo a advogada, os segurados que estão na mira do INSS devem agendar o mais rápido possível os exames para comprovar a doença.
— O médico tem que ser bastante específico no relatório médico, tem que colocar expressamente quando é irreversível o quadro. Tem que colocar o código internacional da doença, que é o CID, que é determinante em termos de prazo de afastamento. O médico deve ser específico também quanto ao prazo estimado de afastamento.

Relator da reforma da Previdência negocia mudança no tempo de contribuição

Ideia já foi discutida com o ministro da Fazenda, disse Arthur Maia



Tempo mínimo de contribuição pode mudar no relatório
Tempo mínimo de contribuição pode mudar no relatórioDivulgação/Previdência Social
O relator da reforma da Previdência, deputado Arthur Oliveira Maia (PPS-BA), disse ter discutido na semana passada com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, a possibilidade de alterar o tempo mínimo de contribuição que passará a ser exigido após a mudança nas regras de aposentadoria no Brasil. Segundo ele, essa proposta tem "certo fundamento" diante de conversas que tem tido com economistas.
texto aprovado pela comissão especial prevê a elevação do tempo mínimo de contribuição para a aposentadoria de 15 anos para 25 anos. Especialistas já apontaram que essa medida pode ser prejudicial para pessoas de menor renda, principalmente mulheres, diante da dificuldade de inserção e permanência no mercado formal. A possibilidade de mudança no tempo de contribuição para destravar a reforma foi noticiada na Folha de S. Paulo.
Oliveira Maia não especificou qual é a mudança em estudo nem se a Fazenda já demonstrou opinião sobre isso, mas disse que a alteração "tem de ser uma regra geral". No caso da aposentadoria rural, o relator alterou o texto e manteve o tempo mínimo de contribuição nos atuais 15 anos para a obtenção do benefício - a previsão era elevar também para 25 anos.
Meirelles sinalizou na semana passada que a área econômica já tem um mapeamento de medidas que poderiam ser adotadas caso a proposta seja aprovada apenas em parte pelos parlamentares.
Muitos deputados defendem que o governo resuma a reforma à instituição de uma idade mínima para a aposentadoria, movimento que pode ganhar força diante dos recentes sinais da equipe econômica. O próprio presidente Michel Temer declarou ao Estadão/Broadcast no início do mês que a reforma "não será tão abrangente" e chamou a proposta de "atualização previdenciária".
Na sexta-feira, contudo, o secretário de Previdência, Marcelo Caetano, afirmou ao Estadão/Broadcast que o governo está firme no plano A, que é o texto já aprovado na comissão especial. Técnicos do governo reafirmam nos bastidores o foco sobre esse substitutivo. Se houver mais flexibilizações, a avaliação é de que o novo governo que assumir em 2019 terá como uma das primeiras missões uma nova reforma da Previdência.
Segundo uma fonte, será difícil consolidar as expectativas dos investidores se a reforma da Previdência agora não sinalizar com efeitos duradouros, uma vez que a trajetória é de elevação da dívida pública. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Congresso mantém veto a bônus a perito e mudanças em benefícios

Fica barrado trecho em que perito atestaria detalhes para recuperar segurado



Congresso manteve veto a bônus a peritos
Congresso manteve veto a bônus a peritosJonas Pereira/Agência Senado
O Congresso Nacional manteve nesta quarta-feira (30) veto parcial do presidente Michel Temer à MP (Medida Provisória) 767/2017, que concedeu bônus a peritos e alterou alguns benefícios do INSS.
Pela MP aprovada, sempre que possível, o ato de concessão ou de reativação do auxílio-doença deverá fixar o prazo estimado para a duração do benefício.
Na ausência desse prazo, haverá a chamada "alta programada": o benefício cessará após o prazo de 120 dias contados da data de concessão ou de reativação do auxílio-doença, exceto se o segurado requerer a sua prorrogação perante o INSS.
Temer vetou, contudo, a determinação de que o perito deverá atestar os detalhes e as condições para a efetiva recuperação do segurado, inclusive estabelecendo a impossibilidade de retorno para atividades realizadas antes do afastamento laboral.
Na justificativa, o presidente afirmou que a atestação de detalhes e condições sobre a recuperação do trabalhador foge às atribuições do perito do INSS.
Argumentou ainda que há impedimento ético, pois, de acordo com o Código de Ética Médica, é proibido ao médico ser perito do próprio paciente.

Reforma da Previdência não sai antes de 2019

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Aposentados que continuam contribuindo podem requerer valor do INSS

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INSS: veja 15 revisões para aumentar o valor do benefício