No Brasil a aposentadoria por idade é concedida a mulheres aos 60 anos e homens aos 65. Em 2015 a Televisão brasileira, fundada em 18 de setembro de 1950, completa 65 anos, ou seja, qualquer que seja o gênero da TV ela já pode se aposentar.
Isso não quer dizer que a TV vai acabar. A expectativa de vida para homens no Brasil é de 74,7 anos e, para as mulheres, 81,4. Estou falando de aposentadoria, quando muita gente reinventa sua vida e começa uma nova jornada. É o que a TV brasileira vai ter que fazer, pra não entrar em depressão ou se tornar invisível. Porque para muitas crianças a TV aberta já nem existe mais, como me ocorreu outro dia na fila de um mercadinho.
Eu tinha ido até o bairro da Liberdade, em São Paulo, para comprar um macarrão japonês. A fila era imensa, dava a volta inteira na loja até chegar ao caixa. Atrás de mim estavam uma mãe e sua filha pequena, de uns 7 ou 8 anos. A garota estava muito feliz e excitada porque tinha comprado vários kits de Poppin' Cooking, aquele brinquedo japones com forminhas e pozinhos para fazer comidinhas de miniatura.
Enquanto a fila andava lentamente a garota falava sobre o brinquedo e dizia que era 'exatamente o mesmo que a menina falou no vídeo'. Logo entendi que ela se referia aos vídeos do YouTube sobre Poppin' Cooking. Toda a conversa girava em torno de vídeos que ela acompanha na Internet, canais do YouTube.
O exemplo dessa garota é apenas um entre tantos. Acho que o fato do cana da Galinha Pintadinha ter sido o primeiro da América Latina a atingir 1 bilhão de views fala muito mais sobre a Internet como principal fonte de entretenimento para as crianças do século XXI.
Como Bia Granja postou no site do YouPix, quem nasceu nos anos 80 forma a última geração que sabe como é a vida antes da Internet. Aqui no Brasil é a geração que foi criada pela 'Babá Eletrônica', que cultua a Xuxa, que tem memória afetiva mais ligada a programas infantis da TV do que qualquer outra. Tudo isso ficou no passado.
Hoje crianças pequenas não ficam mais paradas e hipnotizadas pela TV, mas pelas telas de smartphones, tablets e gadgets móveis. Elas não apenas nasceram numa época em que a Internet já existia (como os nascidos nos anos 90), mas num período em que a tecnologia já havia se barateado o suficiente para que seus pais, mães, irmãos já tivessem esses aparelhos em casa.
A TV não vai morrer de mal súbito, não vai ter um aneurisma ou um AVC e desaparecer. A 'rede' de emissoras é muito poderosa, a estrutura das agências de propaganda, para o bem e para o mal, ainda está muito sustentada na mídia da TV Aberta para seus clientes gigantes, a capilaridade dos aparelhos é imensa. Mas de 98% dos lares têm TV, praticamente 100% dos brasileiros têm celular. Mais alguns anos e teremos o Brasil inteiro conectado à web.
Tecnologias mudam comportamentos. Os tipos móveis de Gutemberg mudaram o mundo, o rádio, a TV, a Internet também. A cada grande descoberta, vem uma onda de popularização que altera comportamentos de toda a sociedade.
Em 2015 a TV Brasileira faz 65 anos. Já pode se aposentar por vontade própria ou se renovar, antes que a geração das crianças nascidas nesse milênio o façam. Porque, se depender dessa garotadinha, a TV, como relógios, bússolas, aparelhos de GPS, de rádio, vai se transformar num aplicativo no celular.
(hora da TV se recalibrar )
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