Cresce o desafio de planejar a aposentadoria em tempos de crise
Cresce o desafio de planejar a aposentadoria em tempos de crise
Denis Dana, do Portal Previdência Total
O ano de 2016 começou com uma série de notícias e fatos econômicos que deixaram os brasileiros temerosos. Em tempos de crise e de instabilidade econômica, o desafio de planejar a aposentadoria torna-se ainda maior.
O crescimento do desemprego e os altos índices de inflação têm provocado a redução da renda do brasileiro, o que pode impactar diretamente nos planos de quem sonha em aproveitar a vida depois de se entregar por tantos anos ao trabalho.
“Esse impacto se dá à medida em que esses índices econômicos negativos acarretam a redução do poder de compra das pessoas, sobrando menos recursos para poupar e para aplicar em investimentos que garantam uma vida pós-trabalho tranquila”, explica Erick Herbert Thau, economista da Técnica Finance Advisory e sócio da Salix Group Investimentos e Participações S.A.
Com menos dinheiro no bolso, o tamanho da consciência e educação financeira de cada pessoa passa a ser fator primordial, que pode servir de motivador ou obstáculo ao planejamento rumo à aposentadoria.
Nesse sentido, o educador financeiro e diretor da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin) Edward Cláudio Jr. cita dois perfis de comportamento. “Há pessoas que pensam em investir ou mesmo já estão investindo na aposentadoria, mas que, ao sentir o aperto no orçamento, desistem de fazer aportes, à espera de dias melhores. E, do outro lado, estão os mais focados e que, por necessidade, escolhem eliminar outros gastos e até optam por reduzir, mas não deixar de fazer o aporte nos investimentos destinados a este fim, sabendo que o valor poderá fazer falta alguns anos à frente”.
Saber onde se gasta é essencial
Para ambos os perfis, uma dúvida muito comum que surge em meio à crise é como definir a aplicação dos recursos, tanto para pagar as contas quanto para investir no futuro.
De acordo com os especialistas, o primeiro passo para a tomada de decisão é saber em detalhes onde se gasta o que se recebe. Essa ação representa um ponto fundamental no planejamento financeiro e pode fazer a diferença.
Edward Cláudio Jr. indica que o diagnóstico da vida financeira deve levar em conta um mês inteiro. “Durante 30 dias, a pessoa deve anotar todos os seus ganhos e gastos, desde os menores valores, incluindo singelas compras e pagamentos de serviços, até os custos mais elevados, como um financiamento imobiliário, por exemplo. Com os dados em mãos, fica mais fácil analisar item por item, evidenciar onde está indo o dinheiro e observar onde é possível reduzir para destinar a verba no planejamento da aposentadoria”.
Erick Thau faz coro à importância desse diagnóstico e ressalta que, com ele, “fica mais fácil estabelecer um custo dentro de um patamar do qual seja possível priorizar os gastos de primeira necessidade e poupar, no mínimo, 15% do rendimento familiar mensal”. Para ele, essa porcentagem mínima de reserva financeira dá tranquilidade não só para fins de aposentadoria como também para um eventual caso de perda de emprego e dificuldade de recolocação durante a turbulência econômica.
Onde investir
Se poupar diante da instabilidade pela qual passa o país é difícil, decidir onde aplicar os recursos poupados é igualmente complexo, ainda mais com a agitação do mercado financeiro brasileiro.
No planejamento para a aposentadoria, a previdência privada aparece como uma das opções. Para o economista Erick Thau, “embora não seja a mais rentável, trata-se de um método de poupança forçada, como uma despesa fixa, de modo que a pessoa não acabe por usar o recurso para outros fins”. No entanto, ela não deve ser considerada a única via de investimento.
Na opinião de Gilberto Miyamoto, consultor financeiro e diretor executivo da consultoria Miyamoto e Cia, o ideal é que as pessoas busquem diversificar os investimentos. “A diversificação reduz riscos e tende a aumentar a rentabilidade da carteira ao longo do prazo. Uma das sugestões é investir em títulos de renda fixa ou indexados à inflação por meio do Tesouro Direto”, explica.
O diretor da Abefin concorda e orienta que o investimento a ser escolhido deve estar atrelado ao prazo da realização do objetivo. Para um prazo de mais de dez anos, por exemplo, a aplicação em títulos do Tesouro Direto é mesmo uma opção interessante. “Tem taxas menores do que as existentes nos planos previdenciários privados, que cobram taxas de carregamento e de administração, o que faz consumir uma quantia relevante do investimento. E isso, no longo prazo, faz grande diferença de rentabilidade”, esclarece.
Além de diversificar, é importante que cada um gerencie seus investimentos ativamente. Miyamoto explica que não basta simplesmente aplicar, confiar em algum profissional que cuide dos investimentos e voltar a pensar nos recursos somente na aposentadoria.
“É preciso monitorar de perto e estar atento para trocar as aplicações conforme os cenários e tendências também se modifiquem. Para isso, porém, é preciso muita disciplina”, observa.
Para quem trabalha em empresas que têm a política de complementar os planos de previdência privada, a dica que os especialistas dão é fazer um esforço no orçamento para não contribuir apenas com o valor mínimo, mas tentar fazer um aporte com o máximo valor que conseguir.
“Há empresas que fazem aporte de igual valor, há as que auxiliam com metade do valor aportado pelo funcionário e algumas que chegam a investir o dobro. Tem que se ter em mente que, em qualquer hipótese, esse aporte empresarial ampliará bastante sua rentabilidade, principalmente em longo prazo, o que pode garantir lá na frente uma aposentadoria sustentável, com a sonhada independência financeira”, conclui o executivo da Abefin.
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