A situação das famílias amazonenses ainda pode piorar, caso o Governo Federal reduza R$ 979 para R$ 969 em 2018. Conforme o Dieese, o valor ideal do salário mínimo seria R$ 3,810. 
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Ana Gomes de Menezes, 74 anos, mora em uma casa com três cômodos e sustenta três filhas e três netos (Foto: Euzivaldo Queiroz)
Na última semana, o governo federal previu a redução de R$ 979 para R$ 969 do salário mínimo para 2018. Ou seja, a situação financeira de muitas famílias pode ficar ainda mais complicada no próximo ano.  A reportagem de A CRÍTICA foi até a Zona Leste de Manaus e conversou com pessoas que tentam sobreviver com um salário mínimo e constatou que nem com um milagre é possível fazer esse valor durar 30 dias.
Na comunidade Coliseu 2, no bairro João Paulo, Zona Leste, nossa equipe encontrou a aposentada Ana Gomes de Menezes, 74 anos, que mora em uma casa com três cômodos e sustenta três filhas e três netos com o salário de R$ 979. Ela contou que o dinheiro não chega até o fim do mês e que não passa mais dificuldades porque a filha mais nova a ajuda.
“Minhas filhas que moram comigo não estudaram e por isso têm muita dificuldade de conseguir um emprego, então nos viramos com a minha aposentadoria. Com o meu salário tenho que pagar água, gás, comprar comida e ainda ajudar com outras coisas. O dinheiro nunca é suficiente”, contou Ana Gomes, que revelou alguns detalhes desse quase milagre.
“Eu pago R$ 100 de água todos os meses, faço um rancho, que nunca é suficiente. Mas eu crio galinha e pato, que às vezes servem como nosso alimento. Quando não temos dinheiro, vou no quintal e mato um animal. Minha filha caçula também ajuda sempre que pode e assim vamos vivendo”, disse.
A técnica em enfermagem, Mercele Pereira, 32 anos, ganha um pouco mais que um salário mínimo. Com duas filhas pequenas, ela encontra muita dificuldade para sobreviver com a quantia de R$ 1100.  “Com o meu salário pago R$ 100 de água, faço um rancho de R$ 300 e compro pelo menos 36 pacotes de fraldas e quatro latas de leite porque minha filha caçula tem apenas um ano e meio ainda”, contou Marcele, que mora na comunidade Coliseu há cinco anos.
Marcele trabalha no Delphina Rinaldi Abdel Aziz, na Zona Norte. Isso significa que todos os dias ela atravessa a cidade para poder trabalhar. “Todos os dias gasto quatro passagens de ônibus para ir trabalhar. Acordo às 4h vou para a parada as 5h30 e chego ao Delphina às 8h. É bastante cansativo”, comentou.
Marcele mora ao lado da casa da mãe dela, a dona Maria de Nazaré, de 60 anos, que é aposentada. “A gente se ajuda, mas é difícil. O rancho de R$ 300 não dura o mês todo e para não passarmos fome, eu compro comida fiado”, disse.
Ideal seria R$ 3,8 mil
Conforme cálculo recente do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o valor ideal do salário mínimo necessário  para suprir  as despesas de uma família de quatro pessoas com alimentação, saúde, vestuário, higiene e transporte,  seria R$ 3,810. Quase quatro vezes mais que o salário mínimo atual.