Em tempos de crise idosos invadem o mercado de trabalho
Aumenta contratação de maiores de 60 anos, que buscam renda extra
PALOMA SAVEDRA/O DIA
Em tempos de crise, a experiência garante um respiro no orçamento. O aperto no bolso tem levado mais idosos ao batente atrás de um complemento para a aposentadoria. E as empresas pegam carona nesse movimento contratando cada vez mais esse público — considerado mais comprometido —, geralmente em cargos de menor qualificação. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE, apontam que, de abril a junho deste ano, 6,6 milhões de brasileiros com 60 anos ou mais faziam parte da força de trabalho (em atividade ou em busca de emprego).
Operadora de caixa do Supermercado Extra, Geralda, 62, não quer parar de trabalhar: “Ganho um pouco mais e me mantenho ativa”
Foto: Alexandre Brum / Agência O Dia
Ao todo, são 28 milhões de idosos em todo o país. Desse total, 6,4 milhões estavam trabalhando no trimestre de abril a junho, segundo dados da Pnad.
Há dois anos aposentada, a operadora de caixa do Supermercado Extra, do Grupo Pão de Açúcar, Geralda Coelho, de 62, engrossa a lista de idosos que trabalham. Para ela, o segundo emprego garante o equilíbrio das contas. “Estou aqui há 14 anos e comecei antes da minha aposentadoria. Não tinha como parar. O benefício não fecha as contas”, contou ela, que acrescentou: “Vou continuar na ativa até quando tiver disposição”, disse, que antes de trabalhar na empresa, era bordadeira.
Exemplo entre seus colegas de trabalho, a recepcionista do Serviço de Atendimento ao Cliente (SAC) do Prezunic, Marimilia Bartha, 60, também se aposentou há 12 anos. Na intenção de aumentar seu benefício e pedir a desaposentação (recálculo da aposentadoria para quem voltou a contribuir para o INSS), de um salário mínimo (R$788), ela voltou ao mercado.
“Não há como contar apenas com o benefício”, afirmou Marimilia, que destacou outras vantagens de estar no mercado. “Gosto de atender aos clientes e da troca com colegas mais jovens, que buscam dicas dos mais experientes”, pontuou ela, ao lado da ‘novata’ Gleyce Silva, 24.
Contador aposentado, José Costa, 63, fez nova especialização e formou-se como técnico em Informática pelo Senac RJ. Apesar de não estar empregado, ele faz ‘bicos’ com a nova qualificação. “Garanto uma renda extra com esse trabalho”, disse ele, que espera ser chamado para um concurso que prestou nessa área.
Diretor do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets), Manuel Thedim explica que a alta da inflação reduziu o poder de compra e levou ao aumento da procura por empregos. “A inflação pune mais os trabalhadores que estão na base da pirâmide, aqueles que recebem menos. Na recessão, até aposentados que recebem salários baixos procuram atividades, sejam as formais ou não. E esse público está mais apto a aceitar cargos de menor remuneração”, declarou.
Comprometimento e experiência são ‘ponto alto’ da terceira idade
Paciência, comprometimento, além da experiência, são as qualidades dos idosos mais citadas por colegas de trabalho, clientes e pelas empresas que os contratam.
Ao receber instruções da recepcionista do Prezunic, Marimilia, a jovem Gleyce Silva, 24, destaca a paciência da colega: “Ela é paciente com a gente e com os clientes. Dá atenção e ensina nos mínimos detalhes. A experiência dos mais velhos realmente faz diferença”, opinou.
Para o Prezunic, “comprometimento, maturidade e senioridade” são exemplos para os outros funcionários, refletindo no atendimento. Do total de 7.200 colabores da empresa, 279 são funcionários idosos.
Já o Grupo Pão de Açúcar criou, há 18 anos, o programa Terceira Idade, para contribuir para a inclusão de diferentes públicos em seu quadro. Hoje, a empresa conta com mais de 3.500 idosos trabalhando no Extra e no Pão de Açúcar no país. No estado do Rio, são 1.194.
A empresa destaca ainda a “motivação destes profissionais e a troca de experiência entre eles e os mais jovens” como vantagens do programa.
A Casa de Saúde São José, o Bob´s, entre outras empresas, também adotam essa política.
Para viabilizar maior inserção de pessoas no mercado, incluindo os idosos, o Senac RJ oferece cursos para recolocação profissional em todo o estado.
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