Renda insuficiente para a sobrevivência faz aposentado voltar ao mercado de trabalho
Aposentados voltam ao trabalho
VINÍCIUS BRUNO/Correio de Mato Grosso
Sonho de desfrutar de uma aposentadoria nem sempre se torna realidade no Brasil e muitos voltam ao mercado formal e informal
O sonho de desfrutar da aposentadoria nem sempre se torna realidade depois dos longos anos de contribuição com a Previdência Social.
O sonho de desfrutar da aposentadoria nem sempre se torna realidade depois dos longos anos de contribuição com a Previdência Social.
Com o avanço na idade também aumenta a vulnerabilidade a doenças, o que gera gastos extras. Nestas condições, a remuneração conquistada pelos anos trabalhados é insuficiente e manter o orçamento pessoal equilibrado é um verdadeiro desafio. A alternativa encontrada por muitos eméritos é voltar ao mercado de trabalho. No ano passado, 695 aposentados voltaram a ter carteira assinada em Mato Grosso. Os dados compilados pela Secretaria de Estado de Trabalho e Assistência Social (Setas) demonstram que a informalidade ainda é elevada neste grupo, mas as vagas existem.
A técnica em enfermagem, Maria Almeida de Souza e Silva, 64, aposentou com 57 anos por tempo de contribuição.
A técnica em enfermagem, Maria Almeida de Souza e Silva, 64, aposentou com 57 anos por tempo de contribuição.
“Me arrependi de ter parado de trabalhar.
Primeiro porque minha renda diminuiu muito em relação ao que ganhava em pleno exercício da profissão. E voltei à ativa porque não gostei de ficar ociosa”. Há 7 meses, Maria preenche uma vaga em um hospital público de Cuiabá. Voltar a trabalhar foi uma oportunidade para ampliar a renda e ter novamente a sensação de estar ocupada. “Gosto muito do que faço. Ficar aposentada é desagradável”.
Maria Almeida faz parte dos 11% da população idosa mato-grossense. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), existem no Estado 3,265 milhões de habitantes, dos quais 359,203 mil possuem mais de 60 anos. Para a secretária-adjunta de Trabalho e Emprego da Setas, Ivone Lúcia Rosset Rodrigues, a sociedade segue o percurso natural para a inversão da curva demográfica, na qual a previsão é que na metade deste século haverá mais idosos do que pessoas ativas economicamente. “A tendência é que nos próximos anos, aumente a quantidade de aposentados que voltam ao mercado formal de trabalho, um índice que está crescendo desde 2009”.
A secretária-adjunta explica que o fator determinante para o retorno dos aposentados ao trabalho formal tem sido a necessidade de aumentar a renda.
“Observo que o trabalho informal ainda é muito presente, mas o trabalho formal possui vagas e eles estão preenchendoas”.
Ivone Rosset diz que a Setas ainda não possui dados sistematizados da disponibilidade destas vagas dirigidas aos idosos e onde elas se concentram.
“Contudo, o governo do Estado implantou em 2015 o Programa Integra Rede, que tem como prioridade a mediação ao acesso dos aposentados ao mercado formal de trabalho”. O Emprega Rede também é responsável por aproximar as vagas de trabalho disponíveis às pessoas portadoras de deficiência, e aquelas que estão vulnerabilidade social.
DIREITOS E DEVERES
aposentado que pretende retornar ao mercado de trabalho perde alguns direitos que são comuns aos demais trabalhadores, como auxílio-doença ou segurodesemprego.
A juíza do Trabalho, Graziele Cabral Braga de Lima explica que a suspensão dos benefícios previdenciários é realizada porque o aposentado já possui uma garantia de sustento, caso seja afastado do trabalho por razões de acidente, doença ou desemprego. A situação é diferente com os que estão em idade economicamente ativa, porque se sofrem algum incidente que resulte no afastamento temporário ou definitivo da função, a Justiça entende que não possuem fonte de renda que os subsidiem.
“Contudo, há algumas modalidades de aposentadoria que não permitem o reingresso no mercado formal de trabalho, como é o caso das aposentadorias especiais, das quais desfrutam professores, ou os trabalhadores rurais”, explica a juíza Graziele Lima. Assim, só podem voltar às atividades aqueles que se aposentaram por tempo de contribuição. E a eles fica retido o direito de uma 2ª aposentadoria.
Quanto aos deveres, a magistrada ressalta que cabe ao emérito continuar contribuindo com a Previdência Social.
“Esta condição se dá mediante o entendimento que a vaga ocupada pelo aposentado poderia ser preenchida por um potencial contribuinte do Sistema Previdenciário. Dessa forma, a cobrança é uma maneira de evitar a defasagem do sistema”.
Para a juíza Graziele, o mercado de trabalho está favorável aos aposentados.
“Porque este é um perfil profissional já qualificado e experiente. A maturidade proporcionada pelos longos anos de prestação de serviço garante uma estabilidade profissional maior. Mas há também a maior propensão aos riscos laborais como acidentes de trabalho e doenças, que causam receios aos empregador. Mas os pontos positivos se sobressaem aos negativos”.
MERCADO
O vice-presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Mato Grosso (Fecomércio/MT), Roberto Peron frisa que há vagas disponíveis para idosos no mercado foram de trabalho em Mato Grosso. “Isso se dá em razão de um deficit da mão de obra qualificada entre os economicamente ativos”. Na opinião dele, muitas empresas que abrem as portas para os aposentados estão à procura de profissionais com mais conhecimento e experiência. “O mercado existe para todos. Não acredito que o aposentado reingresso esteja ocupando vaga de alguém. As vagas disponíveis precisam ser ocupadas de alguma forma, e ganha destaque quem está mais apto.
Dentro da lógica da lei de oferta e procura, os mais qualificados são os que possuem mais vantagens”. Para Roberto Peron, em momentos de crise econômica, os menos qualificados são os primeiros a serem cortados para retenção de despesas. “Neste quesito, os aposentados reativados ganham vantagem por possuírem mais experiência”.
PLANEJAMENTO
Para possuir uma aposentadoria com menos riscos financeiros, o caminho a ser seguido é o do planejamento financeiro. O profissional certified financial planner (CFP) José Portela explica que não há idade para começar a garantir o futuro.
“Para isso, um questionamento deve ser feito: como me vejo na fase de aposentadoria?”.
“Diante da expectativa de vida cada vez mais avançada é inevitável que a quantidade de anos seja maior após a aposentadoria. Veja bem, se você para de trabalhar aos 65 anos e tem uma expectativa de 79 anos, terá mais 14 anos pela frente. A grande questão é: qual será a tua fonte de renda neste período? Você quer viver dependendo da Previdência Social, com um salário irrisório? Ou quer depender de si mesmo?”, questiona Portela.
A recomendação do especialista é tomar consciência da importância de reservar um percentual do próprio salário como um compromisso mensal, ou seja, se a renda é de R$ 1 mil, guardar pelo menos R$ 100 como se fosse uma dívida. “A curto prazo parece pouco, mas ao longo do tempo você vai conquistando uma fortuna, principalmente se realizar o investimento certo, como é o caso da previdência privada”.
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